
Asclepius E O Discurso Perfeito de Hermes Trismegisto
CRÉDITOS:
Asclepius E O Discurso Perfeito de Hermes Trismegisto escrito por Pedro Giordano de Faria e Cicarelli
Edição, arte e diagramação por Pedro Giordano de Faria e Cicarelli
Agradecimentos: A Deus, meus pais, meus amigos e amigas que apoiaram e a todos e todas que estiveram envolvidos de alguma forma nesse trabalho.
O conteúdo deste livro traz à luz um conhecimento que deveria estar presente entre todas as pessoas, e não apenas nas mãos de escolhidos — por escolhidos que também foram escolhidos por outros escolhidos
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
Capítulo 1 - O Chamado da Sabedoria
Capítulo 2 - A Natureza do Divino e a Consciência Cósmica
Capítulo 3 - A Criação do Universo: Energia, Ordem e Vibração
Capítulo 4 - O Ser Humano como Co-Criador
Capítulo 5 - Alma, Espírito e Identidade Multicamadas
Capítulo 6 - O Propósito Humano na Terra
Capítulo 7 - O Poder das Palavras, Símbolos e da Vontade
Capítulo 8 - O Mistério da Morte e da Existência Além do Corpo
Capítulo 9 - A Corrupção da Civilização e a Perda do Sagrado
Capítulo 10 - O Renascimento do Sagrado e o Retorno da Consciência
Capítulo 11 - A Sabedoria como Tecnologia Interior
Capítulo 12 - O Último Conselho do Mestre
EPÍLOGO — A Continuidade da Luz
GLOSSÁRIO
INTRODUÇÃO
Há momentos na vida em que tudo parece saturado: a rotina mecânica, as conversas superficiais, a avalanche de informações, a competição por atenção, a sensação quase permanente de que falta algo — mesmo quando aparentemente não falta nada. Vivemos cercados por estímulos incessantes, mergulhados em notificações que prometem conexão mas muitas vezes produzem vazio, distração, ansiedade. Em meio a isso, cresce silenciosamente uma espécie de cansaço existencial, uma fadiga que não é do corpo, mas da alma. É quando surge, quase sempre de forma discreta, um chamado interior.
Esse chamado não soa como uma voz audível. Ele é mais sutil: um incômodo, uma intuição, uma pergunta persistente que retorna mesmo quando tentamos ignorá-la. É o desejo de compreender o sentido da própria existência, de reencontrar profundidade em um mundo que perdeu o hábito de olhar para dentro. Muitos tentam calar esse impulso com mais consumos, mais ruídos, mais distrações — mas o chamado permanece, insistente, como um farol aceso por trás das cortinas de nossas preocupações diárias.
Este livro nasce para dialogar com esse chamado.
Ele não pretende ensinar dogmas nem resgatar estruturas rígidas do passado. Ele não pertence a nenhuma religião, culto ou tradição específica — embora dialogue com ecos de sabedorias ancestrais que sobreviveram através de símbolos e histórias. Seu propósito é oferecer um caminho narrativo e reflexivo, onde o leitor possa acompanhar um Mestre e seus discípulos enquanto investigam questões que transcendem épocas: o significado da vida, a estrutura invisível da realidade, o propósito da consciência, o mistério da morte e a responsabilidade de existir.
A proposta aqui é unir a profundidade da filosofia com a linguagem atual das novas gerações — que vivem em meio ao caos digital, à fragmentação da atenção e à busca por um sentido que não seja artificial. Não basta repetir ensinamentos antigos. É preciso traduzi-los para o presente, para que façam sentido na vida real: na era da tecnologia, da hiperconectividade, da inteligência artificial, dos algoritmos que moldam pensamentos, dos comportamentos guiados por cliques e impulsos.
Este livro não é um mapa, mas um espelho.
Ele não entrega respostas prontas, mas reflete as perguntas certas.
Se você está com ele nas mãos, há uma grande chance de que já tenha sentido esse chamado — consciente ou não. Talvez você esteja buscando clareza. Talvez esteja tentando entender quem é em meio ao barulho do mundo. Talvez esteja apenas cansado das soluções rápidas e vazias que nunca resolvem nada. Ou talvez seja apenas curiosidade. Mas nada é por acaso quando se trata de despertar interior.
O Mestre deste livro não busca seguidores; busca despertos. Ele não oferece uma luz externa, mas revela a luz que cada pessoa carrega dentro de si e esqueceu como acessar. Ele não conduz à crença, mas à percepção. E a jornada que você está prestes a iniciar não é sobre aprender algo novo, mas sobre lembrar aquilo que sua alma sempre soube.
Esta é uma história, mas também é uma experiência.
Um caminho, mas também um convite.
Um livro, mas também um portal.
Se você decidir atravessar, que faça isso com coragem, curiosidade e abertura.
A sabedoria não transforma através da força, mas através da lucidez.
E se você está aqui agora, não importa como chegou, saiba:
o chamado invisível encontrou você.
E talvez este seja o momento de atendê-lo.
CAPÍTULO 1 — O CHAMADO DA SABEDORIA
O céu daquela noite parecia mais profundo do que o normal, como se tivesse engolido todas as luzes da cidade e guardado apenas o brilho silencioso das estrelas. Ninguém ali percebia, mas um movimento acontecia — não no espaço, e sim dentro de cada pessoa que ousava questionar sua própria existência.
Kai era um deles.
Vinte e poucos anos, mente inquieta, criado numa era onde tudo acontece rápido demais para que alguém escute a si mesmo. Ele passava horas rolando telas infinitas, pulando entre notícias, vídeos, opiniões, discussões... e, mesmo assim, sentia um vazio crescente.
Não um vazio ruim, mas um chamado — como se algo antigo, muito mais antigo que a própria civilização digital, estivesse tentando ser ouvido.
Naquela noite, enquanto caminhava sozinho por um parque quase vazio, Kai parou ao perceber uma figura sentada no banco mais afastado, sob a luz branda de um poste antigo. Não era um idoso comum; havia algo inquietantemente sereno nele. Um silêncio que parecia deslocar o ruído do mundo.
— Você está procurando respostas — disse o homem, sem sequer levantar a cabeça.
Kai estremeceu.
— Como assim? Nem te conheço.
— Não precisa — respondeu o homem. — O coração de quem busca sempre fala mais alto que seus passos.
Kai respirou fundo. Poderia ter ido embora, mas algo o manteve ali.
O homem levantou o olhar, e seus olhos tinham uma profundidade que Kai não soube explicar. Não era misticismo — era lucidez. Uma lucidez tão clara que parecia impossível para um ser humano comum.
— Sente-se — disse o homem, indicando o banco ao lado. — O mundo não está mais ouvindo a si mesmo. As pessoas esqueceram do que são feitas. Mas você sente a falta disso. Você percebe a fratura interna da sua geração, tão conectada a tudo, mas desconectada de si.
Kai hesitou apenas por um instante antes de se sentar.
— Quem é você?
— Alguém que aprendeu a ouvir — respondeu o homem. — E estou aqui porque chegou o momento de você aprender a escutar também.
Kai não sabia se ria, se levantava ou se levava aquilo a sério.
— Escutar o quê?
O homem apontou para o próprio peito.
— O que sempre esteve em você, mas você nunca teve tempo para notar.
O silêncio entre os dois não era estranho. Era como se fosse parte da conversa.
— Hoje — continuou ele — o mundo oferece informação demais e sabedoria de menos. E o conhecimento que não nasce de dentro nunca cria raízes. Você está pronto para aprender o tipo de conhecimento que não depende de telas, gurus ou tendências?
Kai engoliu seco.
— Acho que sim.
— Não. — O homem sorriu. — Você não acha. Você sente. E isso é o que importa.
Kai abriu a boca para perguntar seu nome, mas o homem se adiantou:
— Me chamam de Lysius. Não que o nome importe… mas vai ajudar você a organizar essa experiência.
Lysius se levantou, e Kai percebeu que seus movimentos eram lentos, mas precisos. Como quem está em completo acordo com o próprio corpo.
— Antes de qualquer ensinamento, é preciso que você compreenda isto: conhecimento não começa com respostas, começa com um choque. Um despertar. E hoje você despertou.
— E o que eu faço agora?
— Vem comigo.
Kai se levantou. O parque parecia ter mudado. As árvores, os sons, até o vento… tudo soava diferente, como se o mundo estivesse mais nítido.
— Lysius, eu não sei se estou pronto para algo assim.
— Ninguém está — respondeu ele, caminhando devagar — mas ainda assim, todos são chamados.
Kai respirou profundamente e deu o primeiro passo atrás dele.
E foi assim que seu caminho começou: não com um ritual, uma revelação ou uma visão extraordinária, mas com uma conversa simples — e um sentimento profundo de que, pela primeira vez na vida, estava caminhando na direção certa.
CAPÍTULO 2 — A NATUREZA DO DIVINO E A CONSCIÊNCIA CÓSMICA
O caminho que Kai e Lysius seguiram saía do parque e atravessava ruas silenciosas, como se o mundo tivesse concordado em lhes dar alguns minutos de trégua. O ar estava frio, mas havia algo quente surgindo dentro de Kai, uma mistura de curiosidade e inquietação.
— Lysius… o que exatamente você quer me ensinar? — perguntou ele.
— Não vou ensinar — respondeu o homem. — Vou apenas lembrar.
— Lembrar?
— Sim. Todos nascem com algo que chamam de “intuição”, mas poucos entendem o que ela realmente é. Intuição é memória antiga. É o eco da parte da sua consciência que não nasceu com seu corpo.
Kai ficou em silêncio. Era profundo demais e, ao mesmo tempo, fazia um sentido estranho.
Lysius continuou:
— Você vive em um mundo onde as pessoas trocaram a experiência interior por distrações exteriores. E quando perdem o contato com o que são, começam a buscar tudo fora: felicidade, sentido, aprovação, até mesmo a própria identidade.
— Isso é errado?
— Não é errado. É apenas incompleto. Uma vida construída apenas para fora não tem raiz. A primeira coisa que você precisa compreender é que existe algo dentro de você que é maior do que você.
Kai franziu a testa.
— Como assim… algo em mim maior que eu?
— O que você chama de “eu” é apenas o perfil que você usa para viver neste mundo — respondeu Lysius. — Mas a consciência que observa tudo… essa é antiga, vasta, e não cabe no seu nome, idade, histórico, medo ou sonhos.
Lysius parou de caminhar e olhou para o céu.
— Olhe as estrelas, Kai.
Kai também olhou.
— Você acha que cada uma delas é apenas uma bola de gás acesa?
— Bom, a ciência diz que sim.
— A ciência diz muitas coisas corretas — sorriu Lysius — mas nem sempre fala sobre o significado das coisas. Saber o que algo é não substitui entender por que algo existe.
Kai suspirou.
— Então o que você acha que são?
— Faróis — respondeu Lysius. — Não porque guiam o corpo, mas porque lembram a alma de onde ela veio.
Kai sentiu um arrepio.
— Então você acredita que existe algo como… Deus? Uma energia, uma inteligência?
— Chame como quiser — disse Lysius. — Não estou aqui para impor nomes. Nomes são ferramentas humanas. Mas existe uma consciência que permeia tudo. Ela não está acima das coisas, está dentro delas. Inclusive dentro de você.
— E como eu percebo isso?
Lysius apontou para a cabeça de Kai e depois para o peito dele.
— Usando isso… e isso. Seus pensamentos constroem caminhos, mas é a sua percepção que os ilumina. Você já percebeu como em alguns momentos você “sabe” algo antes de entender?
— Sim… sempre achei que fosse só palpite.
— Palpite é apenas o nome moderno que deram para a sua parte eterna tentando se comunicar com você.
Kai parou de andar. Aquilo mexia com algo que ele não entendia totalmente, mas não era estranho. Era familiar.
Como se tivesse esperado anos para ouvir aquilo.
— Lysius, se existe essa consciência tão grande, por que a gente não sente isso o tempo todo?
— Porque vocês aprenderam a viver no ruído — respondeu ele. — O divino não fala alto. Ele fala claro. E clareza só existe onde há silêncio interno.
Lysius se aproximou um pouco mais.
— O divino não mora fora do mundo, Kai. Não está em templos, não está em livros, não está em gurus… e também não está escondido em algum lugar cósmico.
Ele tocou de leve o peito do jovem.
— Ele mora exatamente onde você nunca ousou procurar: no centro da sua consciência.
Kai respirou fundo.
O ar parecia diferente — como se estivesse mais vivo.
Como se o mundo inteiro tivesse ganhado profundidade.
— Se isso é verdade — disse Kai — então conhecer a mim mesmo é conhecer…
— O próprio universo — concluiu Lysius.
Houve silêncio.
Mas não era vazio. Era um silêncio cheio de significado.
— Hoje você deu o primeiro passo — continuou Lysius. — Começou a perceber que existe uma inteligência maior, não fora de você, mas através de você. O próximo passo será entender como essa consciência cria, se expressa e transforma tudo o que existe.
Kai engoliu seco.
— E como faço isso?
— Você vai aprender — respondeu Lysius, retomando a caminhada. — Mas antes precisa compreender o que faz o universo pulsar.
Ele olhou para Kai com um brilho específico nos olhos.
— E isso nos leva ao próximo ensinamento.
Kai deu alguns passos atrás dele, sentindo que o mundo, de repente, tinha ficado mais profundo — e muito mais vasto.
CAPÍTULO 3 — A CRIAÇÃO DO UNIVERSO: ENERGIA, ORDEM E VIBRAÇÃO
Quando os dois finalmente saíram das ruas silenciosas e chegaram à ponte que atravessava o rio da cidade, Lysius parou novamente. O reflexo das luzes na água parecia pulsar, como se tivesse um ritmo próprio. Kai se encostou na grade, olhando a correnteza.
— Lysius, você disse que o próximo passo é entender o que faz o universo pulsar.
— Exatamente — respondeu o homem. — Porque tudo o que existe, desde uma galáxia até um pensamento, nasce da mesma fonte.
Kai cruzou os braços, sentindo o vento mais frio subir pelo rio.
— E qual é essa fonte?
Lysius abriu um pequeno sorriso.
— Energia. Mas não a energia que se aprende nos livros da escola. A energia de que falo é anterior a toda forma. É a força que permite que algo exista ao invés de nada.
Kai ficou pensativo.
— Então essa energia criou o universo?
— Não exatamente. — Lysius ergueu uma das mãos, como se estivesse segurando algo invisível. — Energia não cria. Ela é. A criação acontece quando essa energia assume um ritmo, um padrão, uma vibração.
— Vibração?
— Sim. Tudo no universo vibra. A matéria, a luz, as emoções, os pensamentos… nada é estático. Tudo é movimento. A diferença entre uma estrela e um corpo humano é apenas o padrão de vibração que cada um organiza.
Kai olhou para a água, que ondulava com precisão hipnotizante.
— Então você está dizendo que tudo é tipo… frequência?
— Exatamente. — Lysius apontou para o rio. — Veja. A água é sempre água. Mas dependendo da vibração, ela pode ser vapor, gelo, ondas calmas ou correnteza violenta. A essência é a mesma, o estado muda.
Kai começou a entender.
— Então o universo inteiro é assim… uma energia única que muda de forma dependendo da vibração?
— Você captou rápido — respondeu Lysius. — E, mais importante: essa energia não vibra sozinha. Existe algo que coloca ordem no caos, que dá direção ao movimento.
— O quê?
— Consciência.
Kai piscou algumas vezes.
— Então primeiro existe energia, depois consciência?
— Não. As duas existem juntas — disse Lysius. — A energia é a matéria-prima, a consciência é o arquiteto. Uma sem a outra não cria nada. A consciência decide, a energia responde. E desse diálogo nasce a realidade.
O jovem respirou fundo.
— Isso é… muita coisa para absorver.
Lysius inclinou a cabeça.
— Não tente entender como se estivesse estudando uma fórmula. Sinta. O conhecimento real não nasce só da mente — nasce da percepção. Pare e observe.
Kai se virou para o rio novamente.
O som da água.
A pulsação das luzes refletidas.
O vento constante.
O brilho das estrelas sobre a ponte.
E algo dentro dele… clicou.
Não como uma revelação mística, mas como um entendimento silencioso, natural, inevitável.
— Lysius… é como se tudo estivesse conectado.
— Porque está — respondeu o homem. — O universo não é um conjunto de coisas separadas. É um único organismo se expressando de infinitas formas.
Kai passou a mão nos cabelos.
— E nós somos parte disso?
— Somos isso — corrigiu Lysius. — Você, eu, as estrelas, o rio, a cidade inteira. Tudo é expressão da mesma consciência modulando a mesma energia em diferentes vibrações.
Kai se virou lentamente para ele.
— Então… quando você diz que o divino está dentro de nós…
— Quero dizer que você é feito da mesma substância que faz o universo existir — disse Lysius, com voz calma. — A única diferença entre você e uma estrela é a história que cada um está contando.
Kai sentiu o peito se expandir de um jeito estranho, como se tivesse mais espaço para respirar.
— E o que determina minha vibração?
— Suas escolhas — respondeu Lysius sem hesitar. — Seus pensamentos, seus sentimentos, sua intenção. Você é uma onda moldando a si mesma o tempo todo. A vida não acontece com você. A vida acontece através de você.
Kai ficou parado, absorvendo cada palavra.
Lysius colocou a mão em seu ombro.
— Quando você compreender isso profundamente, entenderá que nada é impossível para uma consciência desperta. E que o mundo externo é apenas o espelho do mundo interno.
Ele respirou fundo.
— O universo não é um mistério para ser decifrado. É uma linguagem para ser aprendida.
Kai sentiu as pernas tremerem levemente.
— Lysius… eu sinto que algo está mudando dentro de mim.
— Está — confirmou o homem. — E essa mudança é o início da prática. Porque agora que você compreendeu de onde tudo nasce… precisa aprender como essa criação acontece dentro de você.
Ele deu um passo à frente e encarou Kai com seriedade tranquila.
— O próximo capítulo da sua jornada é entender o poder criativo da mente humana.
Kai engoliu seco.
E pela primeira vez, não sentiu medo.
Sentiu propósito.
CAPÍTULO 4 — O SER HUMANO COMO CO-CRIADOR
A noite avançava, mas Kai não sentia sono. Pelo contrário — cada passo que dava ao lado de Lysius parecia acordar uma parte diferente de si. Era como se camadas invisíveis fossem se soltando, revelando algo mais profundo, mais real.
Quando chegaram ao topo de um mirante que observava grande parte da cidade, Lysius parou. As luzes formavam um mar silencioso de brilho artificial, contrastando com o céu estrelado.
— Aqui está o cenário perfeito — disse ele. — A cidade abaixo, o cosmos acima. Dois mundos refletindo o mesmo princípio.
Kai observou ambos.
De certa forma, parecia fácil esquecer que tudo — a engenharia do concreto e o silêncio do céu — surgia dos mesmos elementos.
Lysius se virou para ele.
— Kai, agora que você entendeu que o universo é energia moldada pela consciência… precisamos falar sobre o papel do ser humano nessa grande obra.
— E qual é o nosso papel?
— Criar — disse Lysius, com firmeza. — Co-criar, para ser mais preciso. Cada ser humano carrega a mesma estrutura fundamental do cosmos: energia, vibração, intenção e consciência. A diferença é que vocês não foram ensinados a usar isso. Foram ensinados a sobreviver, não a criar.
Kai respirou fundo.
— Então você está dizendo que eu… tenho poder sobre minha realidade?
— Todo mundo tem — respondeu Lysius. — Mas quase ninguém sabe. Porque o mundo moderno é treinado para reagir, não para escolher. Vocês acordam respondendo a notificações, e dormem respondendo a preocupações. Quando não há silêncio, não há percepção. E sem percepção, a mente cria no escuro.
Kai olhou para a cidade. Ele sabia exatamente do que Lysius falava.
— Eu vivo preso nisso — admitiu. — Tudo parece urgente, tudo parece importante.
— Mas quase nada é essencial — completou Lysius. — E o essencial sempre começa dentro.
O mestre apontou para a própria cabeça.
— Sua mente não é apenas um conjunto de pensamentos aleatórios. É um campo de criação. Tudo que você imagina, sente, teme ou deseja vibra. E essas vibrações organizam a energia ao seu redor de formas que vocês só agora começam a entender.
Kai franziu a sobrancelha.
— Então é tipo… lei da atração? Manifestações?
Lysius suspirou com leveza.
— A ideia popularizada é apenas uma sombra do verdadeiro princípio. Não se trata de “pensar positivo” e esperar por milagres. Isso é infantil.
Ele deu alguns passos e continuou:
— A criação humana acontece quando intenção, emoção e ação vibram na mesma direção. Quando o que você pensa, sente e escolhe se alinham, você se torna um canal da consciência maior. A realidade responde porque você se tornou claridade dentro do caos.
Kai ficou em silêncio por alguns segundos.
— Então… quando minha vida está presa, é porque…
— Porque você está vibrando em direções opostas — completou Lysius. — Pensando uma coisa, sentindo outra, fazendo outra completamente diferente. É como tentar sintonizar duas rádios diferentes ao mesmo tempo. Só cria ruído.
Kai respirou fundo. A sensação de verdade crua o atingiu com força.
— Isso explica tanta coisa…
— Claro que explica. — Lysius se aproximou. — A humanidade inteira vive em fraturas internas. Vocês têm o poder de criar, mas criam sem consciência, sem foco, sem direção.
Lysius levantou a mão aberta, como se segurasse algo invisível.
— Kai, você precisa entender: seus pensamentos não são só pensamentos. São estruturas. Seus sentimentos não são só respostas emocionais. São combustíveis. Suas escolhas não são pequenas decisões. São comandos.
Ele fechou a mão lentamente.
— E quando esses três se alinham, você se torna autor, não vítima.
Kai sentiu o coração acelerar. Pela primeira vez, a palavra “autor” fez sentido em um nível que ele nunca tinha experimentado.
— Lysius… isso significa que eu posso mudar minha vida?
O mestre sorriu.
— Não só pode — ele respondeu — como inevitavelmente vai. Uma mente desperta não aceita a estagnação. Ela transforma.
Kai passou a mão no rosto, tentando absorver tudo.
— Mas como eu começo?
Lysius virou-se para a cidade abaixo, como se o próprio cenário fosse parte da lição.
— Primeiro, você precisa aprender a observar. A criar silêncio dentro de si. A reconhecer seu estado interno antes de tentar mudar o externo.
Ele olhou nos olhos de Kai.
— No próximo passo, você aprenderá que tudo começa pela clareza da intenção.
Kai sentiu o corpo inteiro vibrar como se algo novo estivesse despertando.
— Lysius, por que eu?
— Porque você ouviu — respondeu o homem. — E ouvir já é um ato de criação. Um novo caminho começa no exato momento em que você percebe que pode escolher outro.
Kai sorriu, pela primeira vez sem hesitação.
— Eu quero continuar.
— Então vamos — disse Lysius. — Porque agora você está pronto para o próximo passo: entender como a alma, o espírito e a identidade se organizam dentro de você.
Kai sentiu que estava entrando em um território mais profundo…
E que não havia mais volta.
CAPÍTULO 5 — ALMA, ESPÍRITO E IDENTIDADE MULTICAMADAS
A noite já havia tomado conta da cidade, mas no mirante, a sensação era de que o tempo tinha desacelerado. Kai observava tudo com um novo olhar — como se cada luz lá embaixo fosse parte de um código secreto, algo que ele nunca tinha percebido antes.
Lysius aproximou-se da beira da plataforma e respirou fundo.
— Kai, agora que você compreende seu papel como co-criador, precisamos descer um nível mais fundo. É hora de entender quem você realmente é.
— Eu? — Kai sorriu, meio nervoso. — Eu ainda estou tentando entender o que se passa aqui fora…
— O que acontece fora — disse Lysius — é sempre o reflexo do que acontece dentro. E dentro de você existe muito mais do que a sua mente imagina.
Kai cruzou os braços, atento.
— Vou te explicar algo simples e profundo ao mesmo tempo: você não é um ser único. Você é uma composição. Uma estrutura em camadas.
Lysius ergueu três dedos.
— Corpo.
— Alma.
— Espírito.
Kai olhou para os dedos, como se aquilo fosse ao mesmo tempo óbvio e misterioso.
— Mas… eu sempre pensei que “alma” e “espírito” fossem a mesma coisa.
Lysius balançou a cabeça.
— Não são. E entender essa diferença muda absolutamente tudo.
Ele abaixou a mão e continuou:
A PRIMEIRA CAMADA: O CORPO
— O corpo é sua interface — explicou Lysius. — Um avatar físico que permite sua consciência agir no mundo material. Ele é temporário, adaptável e profundamente influenciado pelo ambiente.
— Então o corpo é a parte menos… eu?
— Não exatamente — respondeu o mestre. — Ele é parte de você, mas não define você. É como uma roupa que você usa para navegar uma dimensão onde tudo é mais denso.
Kai observou as próprias mãos por um instante.
— Às vezes sinto que meu corpo não acompanha minha mente.
— Porque sua mente não nasceu dentro dele — disse Lysius calmamente.
Kai respirou fundo. Aquilo atingiu um ponto sensível.
A SEGUNDA CAMADA: A ALMA
Lysius continuou:
— A alma é sua identidade emocional. Ela registra tudo que você sente, tudo que te toca, tudo que te marca.
— Memórias?
— Muito mais que isso. A alma é a ponte entre o espírito e o corpo. Ela traduz o imaterial em sensações, e transforma experiências em aprendizado.
Kai franziu a testa.
— Então minhas emoções… são o meu centro?
Lysius sorriu.
— Suas emoções são seu idioma mais antigo. A alma fala através delas. Quando você sente algo sem motivo, quando seu coração acelera, quando uma presença te conforta ou te perturba…
Ele tocou o peito.
— É sua alma tentando te guiar.
Kai sentiu um arrepio familiar — como se estivesse ouvindo algo que sempre soube, mas nunca tinha admitido.
A TERCEIRA CAMADA: O ESPÍRITO
Lysius ergueu a cabeça para o céu.
— O espírito é a parte eterna. É a consciência que existe antes, durante e depois do corpo. É a origem. A centelha. A parte de você que nunca confunde quem é.
— Então o espírito é… Deus dentro de mim? — arriscou Kai.
— Se quiser chamar assim, pode — respondeu Lysius. — Mas lembre-se: nomes limitam. O espírito é a sua porção infinita. A consciência que observa, que percebe, que existe além do tempo.
Kai engoliu seco.
— E por que não sentimos isso?
— Porque vocês vivem presos na camada intermediária — explicou o mestre. — A alma se ocupa com medos, desejos, comparações, memórias, frustrações… e esse ruído emocional impede que o espírito se manifeste com clareza.
Kai ficou em silêncio por alguns segundos.
— Então, quando eu estou confuso, é minha alma.
— Quando você está claro — disse Lysius — é o espírito.
Kai respirou fundo.
Era como se as peças começassem a se encaixar.
A IDENTIDADE MULTICAMADAS
Lysius voltou-se para ele com seriedade suave.
— Você pensa que é “uma pessoa”. Mas, na verdade, é um sistema de camadas trabalhando juntas. O corpo sente o mundo. A alma interpreta. O espírito observa e guia.
Ele aproximou-se um pouco mais.
— E o seu “eu” da vida cotidiana é apenas a superfície disso tudo.
Kai arregalou os olhos.
— Então existe uma versão minha muito maior do que eu imagino?
— Existe. Uma versão que não tem medo, que não vive de validação, que não depende do olhar dos outros. Uma versão que sabe o que é porque sente o que é, não porque o mundo diz quem você deve ser.
Kai respirou fundo outra vez.
Era estranho… desesperador… libertador.
— Lysius… e como eu faço para me conectar com o espírito?
— Silenciando a alma — respondeu o mestre. — A alma faz barulho. O espírito só se manifesta no silêncio. Essa é a porta.
Lysius colocou a mão no ombro de Kai.
— E quando essa conexão acontece, quando corpo, alma e espírito se alinham…
Ele sorriu.
— Você se torna você pela primeira vez.
Kai sentiu um impacto tão profundo que precisou fechar os olhos.
Não era emoção.
Não era pensamento.
Era algo mais.
Uma sensação de reconhecimento.
Como se estivesse voltando para casa depois de anos perdido.
Ao abrir os olhos, Lysius já caminhava para fora do mirante.
— Venha.
Kai seguiu.
— Para onde estamos indo?
Lysius respondeu sem olhar para trás:
— Para o próximo passo.
— E qual é?
— Entender o propósito da sua existência.
Kai sentiu a espinha arrepiar.
Era isso.
Ele estava prestes a entrar na parte mais profunda de tudo.
E ele estava pronto.
CAPÍTULO 6 — O PROPÓSITO HUMANO NA TERRA
A tarde estava dourada quando Aureon conduziu seus três discípulos para a colina acima da cidade. De lá, os prédios pareciam circuitos de um gigantesco microchip pulsando com sinais luminosos, como se toda a metrópole fosse um organismo vivo enviando dados ao cosmos.
Liora respirou fundo.
— Sempre parece que tudo está acelerado demais. Como se ninguém tivesse tempo para nada.
Aureon observou o horizonte sem piscar.
— Porque ninguém tem tempo para si mesmo, Liora. As pessoas vivem ocupadas demais para lembrar por que vieram para cá.
Nyx cruzou os braços.
— É por isso que estamos aqui? Para descobrir esse tal “propósito humano”?
O Mestre virou-se lentamente para eles.
— Vocês vivem em uma era em que cada geração tem mais liberdade do que as anteriores… e, ainda assim, menos clareza. Há tanto conteúdo que falta significado. Tanta voz que falta direção. Tanta conexão que falta presença.
Ele fez uma pausa.
— É por isso que precisamos falar sobre propósito.
Orion ergueu a sobrancelha.
— Você fala como se não fosse sobre trabalho, talento, vocação…
— Isso tudo é consequência — respondeu Aureon. — Propósito não é aquilo que você faz. É aquilo que você é quando faz qualquer coisa.
Os três ficaram em silêncio, tentando digerir a frase.
— Quando a consciência se alinha com sua verdade interior, tudo o que você toca ganha sentido. Quando se afasta, até o que você ama vira peso. O propósito não é um destino profissional, mas um modo de existir que sustenta todas as escolhas.
Aureon então desenhou três linhas no chão com o bastão que carregava.
— Todo ser humano nasce com três funções essenciais, embora poucos se lembrem delas.
Ele apontou para a primeira linha.
— Evoluir. O indivíduo cresce para dentro: pensamentos mais claros, emoções mais serenas, escolhas mais conscientes.
Apontou a segunda.
— Servir. Não como submissão, mas como contribuição. Cada pessoa ilumina o mundo quando oferece o que tem de melhor.
A terceira.
— Criar. Não apenas obras, mas realidades. Vocês moldam o mundo pela forma como percebem, falam, decidem e influenciam.
Nyx observou as linhas:
— Então ninguém é inútil?
— Ninguém — afirmou Aureon. — A inutilidade é apenas desconhecimento do próprio valor.
O Mestre virou o olhar para a cidade abaixo.
— Vocês vivem a primeira era da história humana em que qualquer pessoa pode alcançar milhões em segundos. Isso é poder — e todo poder traz responsabilidade.
Ele ergueu o dedo.
— Quando vocês falam, comentam, compartilham, criam, vocês influenciam. A pergunta é: influenciam a partir de onde?
De medo?
De vaidade?
De solidão?
Ou de consciência?
Liora respirou fundo.
— A maioria nem sabe responder isso.
— E é por isso que tantos se sentem vazios — disse Aureon. — Vocês estão cercados por estímulos, mas famintos de sentido.
Orion apertou os punhos.
— Ainda não entendi onde entra a tal “responsabilidade”.
Aureon sorriu de leve.
— Ética é aquilo que você faz quando ninguém está olhando… e quando todo mundo está olhando também. A tecnologia deu voz a todos, mas nem todos descobriram a maturidade de usá-la.
Fez um gesto amplo para a cidade.
— Vocês não estão aqui apenas para viver. Estão aqui para melhorar o lugar que habitam.
— Como? — perguntou Nyx.
— Começando por si mesmos. Não há transformação coletiva sem transformação individual.
Aureon fechou os olhos por alguns segundos.
— Existe um campo invisível que conecta todos vocês — pensamentos, sentimentos, intenções — como uma grande rede energética. Cada ação humana altera esse campo, assim como cada novo dado altera uma rede neural.
— Tipo uma IA gigante? — brincou Orion.
— Não tão literal — disse Aureon. — Mas é uma boa metáfora. Assim como a IA aprende com os dados que recebe, a humanidade se eleva ou se afunda com aquilo que cada pessoa adiciona ao campo coletivo.
Liora tocou o próprio peito.
— Então o nosso propósito é influenciar esse campo para melhor?
Aureon a encarou.
— Exatamente. Evoluir, servir e criar para elevar o tecido espiritual do mundo. Esse é o propósito comum a todos os seres humanos, independentemente de talento ou ocupação.
Nyx então perguntou:
— Mas e nós? Nossa geração nasceu no caos. Qual é o nosso papel?
O Mestre sorriu como quem já esperava essa pergunta.
— Vocês vieram para curar a desconexão. Para equilibrar o digital com o humano. Para lembrar ao mundo que tecnologia sem consciência vira ruído… mas tecnologia com propósito vira luz.
Ele se aproximou deles e falou quase em sussurro:
— Vocês são a ponte entre mundos.
Entre o antigo e o novo.
Entre o material e o espiritual.
Entre a informação e a sabedoria.
Aureon então ergueu o rosto para o céu.
— E quando cada um de vocês assumir seu propósito interior, o mundo sentirá.
O vento soprou, como se confirmasse suas palavras.
— Agora — concluiu o Mestre — vocês já sabem por que vieram.
A partir daqui… começam a descobrir como.
CAPÍTULO 7 — O PODER DAS PALAVRAS, SÍMBOLOS E DA VONTADE
A noite havia caído sobre a colina. A cidade brilhava como um vasto circuito eletrônico, enquanto o céu exibia sua própria constelação — estrelas que pareciam pixels ancestrais projetados no infinito.
Aureon observou ambas as paisagens ao mesmo tempo, como se conseguisse enxergar o código oculto que conectava céu e tecnologia.
— Hoje — disse ele, cruzando as mãos — falaremos sobre três forças que moldam o destino humano desde antes da escrita, e que continuam moldando agora, na era dos algoritmos.
Os discípulos se aproximaram.
Liora sentiu um arrepio leve.
— Essas três forças são…?
Aureon respondeu calmamente:
— A palavra.
O símbolo.
A vontade.
Orion foi o primeiro a reagir:
— Todo mundo fala o tempo todo. Não vejo nada especial nisso.
Aureon o encarou com uma expressão que misturava humor e compaixão.
— Justamente. Vocês falam tanto que esqueceram o que uma palavra realmente é.
Ele estendeu o braço para o horizonte.
— Uma palavra é uma chave de acesso. Ela abre ou fecha realidades. Constrói ou destrói estados mentais. Alivia ou agrava feridas.
Aureon pausou.
— E o mais curioso: vocês vivem na geração que mais usa palavras na história. Comentários, legendas, memes, mensagens, áudios, posts…
Sua voz ficou mais firme:
— E nunca houve tantas palavras sem consciência.
Nyx desviou o olhar.
— Você quer dizer… palavras vazias?
— Exato. Palavras automáticas. Usadas não para expressar, mas para ocupar espaço.
Ele apontou para o coração.
— A palavra consciente nasce de dentro. Ela carrega intenção. Direcionamento. Energia.
Liora perguntou:
— Então uma palavra pode realmente afetar a realidade?
Aureon respondeu:
— Toda realidade humana começa numa palavra.
O que você acredita.
O que você afirma.
O que você repete.
Aquilo que você permite entrar no seu universo mental.
— Mas isso vale até para redes sociais? — perguntou Orion.
Aureon sorriu.
— Principalmente para as redes sociais. Vocês não escrevem apenas para os outros. Vocês escrevem para o algoritmo que aprende com o que vocês publicam… e também para o algoritmo interior que aprende com o que vocês dizem.
Aureon então traçou um círculo no ar com o dedo.
— Tudo o que existe possui camadas. O símbolo é a interface que permite acessar essas camadas sem precisar decodificar todo o sistema.
Ele ergueu o dedo novamente, desenhando no ar um triângulo invisível.
— Vocês usam símbolos o tempo todo: ícones, marcas, emojis, logotipos, bandeiras, avatares. Cada símbolo carrega uma história, uma energia, uma direção.
Nyx se aproximou.
— Então símbolos são tipo… atalhos?
— Perfeito.
Aureon completou:
— Um símbolo é um arquivo compactado de significado.
O inconsciente entende antes mesmo que a mente racional processe.
Orion riu.
— Então isso explica por que certas marcas mexem tanto com a gente…
— Sim — respondeu Aureon. — E também explica por que símbolos espirituais atravessam milênios. Eles não são apenas desenhos; são mapas para estados de consciência.
Liora perguntou:
— E nós podemos criar nossos próprios símbolos?
— Claro. Toda geração cria. Vocês criam o tempo todo — com moda, gírias, memes, estéticas, artes digitais.
Aureon acrescentou:
— A questão não é se vocês criam símbolos. A questão é se vocês sabem o que estão evocando quando os usam.
Aureon então caminhou até uma rocha próxima e pousou a mão sobre ela.
— Palavra sem vontade é só som.
Símbolo sem vontade é só imagem.
Mas vontade…
Ele fechou os olhos.
— Vontade é a força que converte intenção em realidade.
Nyx sentou no chão, fascinada.
— Mas o que é “vontade” para você? Tipo… força de vontade?
— Não. Isso é disciplina.
A vontade é outra coisa.
— A vontade é o centro espiritual do ser humano, a direção interior que organiza o caos. É como o núcleo de um sistema operacional — tudo funciona porque ele existe.
Orion respirou fundo.
— E a nossa geração tem isso… ou perdeu?
Aureon o encarou com profundidade.
— Vocês ainda têm a vontade — mas ela está dispersa. Fragmentada entre distrações, expectativas, pressões e ansiedade.
Aureon abriu os braços.
— A verdadeira vontade é silenciosa. Estável. Precisa.
Ela diz:
“Eu escolho.”
“Eu direciono.”
“Eu assumo.”
Aureon uniu as mãos como quem sela um conceito no ar.
— Quando palavra, símbolo e vontade se alinham… vocês se tornam criadores conscientes.
Ele explicou:
— A palavra expressa.
O símbolo codifica.
A vontade ativa.
— E isso serve para quê? — perguntou Liora.
Aureon respondeu sem hesitar:
— Para transformar vocês mesmos, seus relacionamentos, seus caminhos, seus projetos, sua energia… e, por consequência, o mundo.
A luz da cidade piscaram como se confirmassem essa verdade.
Nyx então comentou:
— Isso faz parecer que tudo o que a gente posta tem peso.
— Tem — disse Aureon. — Vocês moldam o campo coletivo com cada palavra digitada e cada imagem compartilhada.
Aureon concluiu:
— O digital ampliou o poder humano de manifestar. Mas amplificou também o impacto das intenções inconscientes.
Silêncio.
Um silêncio denso.
Criativo.
Transformador.
Aureon colocou a mão no ombro de cada discípulo.
— A partir de hoje, falem com propósito.
Escolham seus símbolos com consciência.
E direcionem a vontade como quem segura um raio em miniatura.
Ele sorriu.
— O mundo moderno não precisa de mais barulho. Precisa de precisão.
Precisa de vocês despertos.
Os três respiraram juntos, como se algo dentro deles tivesse se alinhado pela primeira vez.
A lição estava dada.
E a semente, plantada.
CAPÍTULO 8 — O MISTÉRIO DA MORTE E DA EXISTÊNCIA ALÉM DO CORPO
A neblina da madrugada ainda pairava sobre o vale quando Aureon chamou seus discípulos para seguirem até o topo da montanha. A subida foi silenciosa — não por falta de perguntas, mas porque o ar parecia exigir calma. Era como se o mundo soubesse que aquele seria um dos temas mais delicados que o Mestre já havia apresentado.
Quando chegaram ao topo, a vista era sublime:
A cidade ainda dormia, acesa apenas por alguns pontos de luz, enquanto o céu começava a ser tingido pelos primeiros tons dourados do sol.
Aureon se virou para eles com uma expressão de profunda serenidade.
— Hoje falaremos sobre aquilo que todos temem… e quase ninguém compreende.
Liora engoliu seco.
Nyx cruzou as pernas no chão.
Orion respirou fundo.
— A morte? — perguntou Orion.
Aureon assentiu.
— A morte. Ou melhor… o mito da morte.
Aureon caminhou até a beira da montanha, observando o horizonte.
— Os seres humanos confundem a morte com fim. Mas a morte é apenas a mudança de um modo de existir para outro. Vocês tratam o corpo como se fosse o centro da vida — quando, na verdade, é apenas a interface temporária da consciência.
Nyx franziu o cenho.
— Interface? Tipo uma… ferramenta?
— Exatamente. O corpo é um dispositivo biológico que permite à consciência experienciar o mundo material.
Aureon tocou o próprio peito.
— Mas o que vocês realmente são não cabe dentro de carne, ossos ou sinapses. Vocês são um campo de consciência que utiliza o corpo — não o contrário.
Liora se aproximou.
— Mas o que acontece no momento da morte?
Aureon sorriu de leve.
— Para a consciência, é semelhante ao que acontece quando vocês desligam um aparelho. O sistema operacional continua existindo — apenas deixa de operar naquele dispositivo específico.
Ele explicou:
— Quando o corpo cessa, a consciência se desprende como um software sendo ejetado de um hardware.
— E vai para onde? — perguntou Nyx.
Aureon apontou para o céu, mas sem dramatizações.
— Para aquilo que vocês chamariam de “nível superior da experiência”. Uma camada de realidade onde tempo, forma e identidade funcionam de maneira diferente.
Orion deitou no chão, olhando o céu já iluminado.
— Então existe “vida após a morte”?
Aureon corrigiu:
— Não existe “vida após a morte”. Existe vida além do corpo. A consciência não depende da biologia para existir. Ela apenas usa a biologia para manifestar certas experiências.
— Mas como é esse “além”? — insistiu Liora.
Aureon buscou palavras simples.
— Imagine um espaço onde não há limitações físicas. Onde suas percepções não passam pelos mesmos filtros que vocês têm aqui. Onde memória, identidade e presença se expandem como se alguém tivesse tirado o “modo limitado” de uma conta digital.
Ele adicionou:
— Não é um lugar… é um estado.
Nyx murmurou:
— Como dormir… só que acordado?
— Como acordar… depois de ter dormido a vida inteira — corrigiu Aureon.
— E o que acontece com o “eu”? — perguntou Orion. — A gente continua sendo a mesma pessoa? Ou vira outra coisa?
— Vocês continuam sendo vocês — mas sem os ruídos, traumas e limitações do corpo.
Aureon explicou:
— Cada vida é como um ciclo de aprendizado. A consciência acumula experiências, assim como um sistema acumula dados, e usa tudo isso para evoluir.
Ele completou:
— A morte é apenas a pausa entre uma etapa e outra dessa evolução.
Nyx ficou pensativa.
— Então… se nada realmente termina, por que existe tanto medo?
Aureon sorriu de forma triste.
— Porque vocês foram ensinados a amar o temporário como se fosse eterno — e a temer o eterno como se fosse desconhecido.
Ele ergueu uma pequena pedra.
— As pessoas acreditam que perder o corpo é perder tudo.
Soltou a pedra, que caiu no chão.
— Mas não percebem que perdem a si mesmas quando vivem sem consciência.
Liora respirou fundo.
— Parece que a morte é menos assustadora do que o jeito que vivemos…
— Sempre foi — afirmou Aureon.
Orion se sentou novamente.
— E o que a tecnologia tem a ver com isso?
Aureon respondeu com firmeza:
— Vocês são a primeira geração da história a deixar rastros digitais que continuam existindo mesmo depois do corpo parar. Isso cria um novo fenômeno:
a vida parcialmente continuada no mundo digital.
Perfis, imagens, mensagens, ideias… tudo continua.
Cada pessoa deixa uma sombra luminosa no ciberespaço.
Nyx murmurou:
— Como uma memória viva?
— Como uma extensão simbólica — disse Aureon. — Uma parte de vocês continua aqui, influenciando, tocando, ensinando… ou sendo esquecida.
Aureon se aproximou do trio, seus olhos brilhando com uma intensidade incomum.
— A pergunta não é “o que acontece depois da morte?”
A pergunta é:
“O que você está criando enquanto vive, que mereça continuar quando seu corpo não estiver mais aqui?”
Os três ficaram imóveis.
— Vocês deixarão ruído… ou legado?
Esvaziamento… ou impacto?
Medo… ou presença?
Aureon respirou fundo.
— Porque no final, o corpo morre. Mas a consciência evolui. E o que você cria ecoa.
O sol finalmente rompeu o horizonte, banhando tudo em luz.
Os discípulos sentiram que algo dentro deles havia se expandido. Um medo antigo parecia ter perdido sentido. A morte já não era um inimigo — mas uma transição natural, parte de um ciclo maior e muito mais vasto.
Aureon sorriu com serenidade.
— Quando vocês compreenderem verdadeiramente que não são o corpo… nada poderá quebrar o espírito de vocês.
Ele virou-se para descer a montanha.
— Agora que compreendem a morte, estão prontos para compreender a vida.
E começaram a caminhar.
Capítulo 9 - A Corrupção da Civilização e a Perda do Sagrado
A era das distrações, do ruído e da desconexão interior.
O Mestre caminhava com seus discípulos por uma praça movimentada. Carros passavam apressados, telas brilhavam nas vitrines, conversas se sobrepunham ao som de notificações. Era um cenário comum, mas ele o observava como se enxergasse camadas invisíveis por trás do mundo físico.
Depois de alguns minutos em silêncio, ele parou e perguntou:
“Vocês conseguem ouvir a si mesmos aqui?”
Os discípulos se entreolharam.
A resposta era óbvia: não.
O Mestre então apontou para o tumulto:
“Esta é a paisagem da civilização moderna: uma coleção de ruídos que invadem a mente e silenciam o espírito.”
Ele caminhou mais alguns passos, observando as pessoas que passavam:
“Reparem como a maioria não anda — corre. Não conversa — reage. Não vive — tenta acompanhar um ritmo que não foi criado por elas, mas imposto por estruturas que elas mesmas alimentam.”
Os discípulos aproximaram-se mais, atentos ao olhar grave do Mestre.
A Perda da Interioridade
“Há algo essencial que o mundo moderno perdeu”, disse ele, “algo mais precioso que qualquer tecnologia: a interioridade.”
O Mestre fechou os olhos por um instante e continuou:
“Antigamente, mesmo em meio às dificuldades, o ser humano mantinha um espaço interno que chamava de sagrado — um espaço onde se encontrava com sua própria essência. Era ali que nasciam a ética, a compaixão, a visão.”
Ele abriu os olhos lentamente.
“Mas quando a vida se torna uma sucessão de estímulos, esse espaço se contamina. E quando o interior se contamina, tudo ao redor se corrompe.”
Os discípulos escutavam como se aquelas palavras fossem portas se abrindo dentro deles.
A Ilusão do Progresso
O Mestre voltou a caminhar e explicou:
“Há uma crença sedutora que domina o mundo: a ideia de que progresso exterior garante evolução interior. Mas isso é uma ilusão.”
Passaram por uma tela enorme exibindo produtos, viagens, promessas de felicidade instantânea.
“Objetos mais avançados não tornam consciências mais evoluídas. Pelo contrário: quando o mundo externo cresce mais rápido que o interno, surge um desequilíbrio.
E onde há desequilíbrio, nasce a decadência.”
Ele parou em frente a uma fonte e tocou a água.
“Vejam esta água: se ela flui limpa, reflete o céu. Mas se é agitada demais, nada se vê. Assim também é a mente humana.”
A Cultura da Superficialidade
“Hoje”, disse o Mestre, “as pessoas trocam profundidade por velocidade.”
Ele ergueu um pequeno dispositivo digital.
“O que deveria ser uma ferramenta se tornou um tirano. Vocês conhecem alguém que possa ficar um único dia verdadeiramente presente, sem fugir para dentro de uma tela?”
O silêncio dos discípulos foi a resposta.
“Essa é a nova forma de escravidão. Não é física, mas mental. O ser humano está preso à necessidade de se distrair para não enfrentar a si mesmo.”
O Mestre falou então com uma tristeza suave:
“A superficialidade se tornou a norma. Tudo é rápido, mas nada é profundo.
Tudo é conectado, mas ninguém se sente pertencente.”
A Morte do Sagrado Silencioso
O grupo se afastou da praça e encontrou uma área de árvores. O contraste entre a calma e o tumulto anterior era quase simbólico.
“O sagrado não desapareceu”, disse ele, “ele apenas deixou de ser percebido.”
O Mestre sentou-se à sombra de uma árvore e continuou:
“Quando a mente é saturada de estímulos, ela perde a capacidade de perceber sutilezas. E o sagrado é sempre sutil.”
Ele olhou para o alto:
“O sagrado está no silêncio entre os pensamentos.
Está na respiração consciente.
Está no gesto intencional.
Está na capacidade de sentir — não apenas de reagir.”
Depois, com voz mais firme:
“Mas quando o ser humano vive em automático, ele se distancia dessa percepção. E quando o sagrado deixa de ser reconhecido, a civilização começa a se corromper desde dentro.”
A Corrupção Como Desalinhamento
“Corrupção não é apenas crime, dinheiro ou poder. Corrupção é desvio da essência. É quando algo se afasta da sua função natural.”
Ele passou a mão sobre o chão, como se lesse as energias dali.
“O ser humano foi feito para criar, para cooperar, para elevar. Mas quando se perde no excesso de estímulos, ele se torna reativo, competitivo, ansioso, desconectado.”
O Mestre ergueu o olhar:
“A verdadeira corrupção é viver sem consciência.”
Os discípulos sentiram o peso das palavras.
A Falta de Propósito Coletivo
“Hoje, a civilização está cheia de tecnologias que libertam o corpo, mas prendem a mente.
Nunca houve tanto conforto — e tanta confusão.”
Ele continuou:
“A grande doença do nosso tempo não é física, mas existencial.
É a perda de propósito.”
As pessoas vivem para metas que não são delas, perseguem padrões que não escolheram, e se comparam com imagens irreais.”
O Mestre concluiu:
“Quando o humano perde o propósito, o coletivo perde o rumo. E quando o coletivo perde o rumo, nasce um mundo que progride para fora e apodrece por dentro.”
A Semente Ainda Vive
Depois de um longo silêncio, um dos discípulos perguntou:
“Mestre… há esperança?”
Um sorriso leve iluminou seu rosto.
“Sempre há. Porque a essência jamais morre. Ela apenas fica encoberta.”
O Mestre se levantou.
“A semente do sagrado ainda vive em cada pessoa. E quando alguém decide silenciar o mundo e ouvir a própria alma, essa semente desperta.
E quando desperta, ilumina não só o indivíduo, mas tudo ao seu redor.”
Ele respirou fundo:
“A civilização parece perdida porque muitos esqueceram quem são.
Mas o esquecimento é reversível.
A consciência pode retornar.
E quando retornar, o sagrado também voltará.”
Ele concluiu:
“A decadência é apenas a noite antes do amanhecer.”
Capítulo 10 - O Renascimento do Sagrado e o Retorno da Consciência
O despertar silencioso que nasce dentro de cada indivíduo.
O Mestre e seus discípulos caminharam até um mirante onde a cidade parecia respirar sob as luzes noturnas. De cima, o movimento frenético parecia menor, quase insignificante, como se fosse apenas um pequeno desvio dentro de algo muito maior.
Ali, o Mestre parou, respirou profundamente e disse:
“Mesmo na maior escuridão, algo dentro do ser humano sempre procura a luz.
É um impulso silencioso, uma espécie de memória espiritual que não se apaga.”
Os discípulos o ouviram com atenção, sentindo que aquele capítulo da jornada era diferente.
Falava-se de esperança — não ingênua, mas madura.
O Despertar Individual Antes da Mudança Coletiva
“O mundo não será transformado por grandes instituições”, afirmou o Mestre.
“A mudança começa dentro de uma única pessoa — e se espalha como uma onda.”
Ele se aproximou da borda do mirante e apontou para a cidade:
“Observem. Entre milhões que dormem com os olhos abertos, alguns começam a questionar. Outros começam a sentir. Poucos começam a ouvir. E aqueles que despertam, mesmo em silêncio, alteram o campo ao seu redor.”
O Mestre sorriu, como quem vê além do tempo:
“A consciência não precisa de multidões para renascer. Precisa apenas de indivíduos verdadeiros.”
A Busca Espiritual Fora dos Moldes Antigos
“As gerações atuais”, continuou o Mestre, “não buscam templos, intermediários ou dogmas. Buscam experiências.”
Ele tocou o próprio peito:
“A nova espiritualidade não é externa — é interior.
Ela nasce da curiosidade, da sensibilidade, da capacidade de sentir a vida em profundidade.”
O Mestre caminhou lentamente enquanto explicava:
“Os jovens não querem sermões. Querem prática.
Não querem obediência cega. Querem compreensão.
Não querem imagens do sagrado. Querem experimentar o sagrado.”
E então acrescentou:
“O templo do futuro não terá paredes. Ele será construído na consciência de cada um.”
O Silêncio Como Portão do Sagrado
O Mestre fechou os olhos por alguns instantes.
“O retorno do sagrado começa sempre no silêncio.
Não no silêncio externo, mas naquele que surge quando a mente está presente.”
Ele continuou:
“O silêncio interno é o portão através do qual o ser humano volta a perceber sua própria essência.
E ao atravessar esse portão, tudo muda: a percepção, os valores, o ritmo, a vida.”
Os discípulos permaneceram em quietude, sentindo que as palavras não eram apenas ideias — eram chaves.
A Luta Contra o Ruído Interno
“Mas o retorno do sagrado não é fácil”, disse o Mestre.
“O primeiro grande obstáculo é o ruído interno.”
Ele explicou:
“O ser humano moderno foi treinado para pensar excessivamente, sentir pouco e agir compulsivamente.
A mente se tornou hiperativa; o coração, subutilizado; a consciência, esquecida.”
O Mestre fez uma pausa intencional.
“Por isso o renascimento espiritual não começa com rituais, mas com desapego.
O desapego das distrações.
O desapego dos excessos.
O desapego das falsas necessidades.”
Um discípulo perguntou:
“Mestre… o que devemos fazer para reencontrar esse sagrado?”
Ele respondeu:
“Comecem observando o que ocupa sua mente.
Vocês se alimentarão daquilo que consomem — tanto em comida quanto em informação.”
A Consciência Como Força de Restauração
O Mestre apontou para uma luz distante que oscilava ao vento.
“A consciência é a força que restaura o ser humano.
Ela não corrige pelo medo, mas pela clareza.
Não transforma pela imposição, mas pela revelação.”
Ele explicou:
“Quando alguém desperta, mesmo que discretamente, sua presença se torna um farol.
E sem perceber, sua luz encoraja outros a despertar também.”
Os discípulos fizeram silêncio.
Era como se aquelas palavras colocassem ordem dentro deles.
A Nova Espiritualidade Não Vem de Cima, Mas de Dentro
“O sagrado do futuro não surgirá de discursos”, afirmou o Mestre.
“Ele surgirá da percepção.”
Ele respirou fundo:
“O retorno da consciência é o retorno da sensibilidade.
É perceber o que antes passava despercebido.
É sentir o que antes estava anestesiado.”
E então concluiu:
“A nova espiritualidade será viva, simples, acessível.
Será menos sobre crença e mais sobre presença.
Menos sobre regras e mais sobre consciência.
Menos sobre céu e mais sobre interioridade.”
O Futuro Como Campo de Possibilidades
O Mestre olhou mais uma vez para a cidade abaixo.
“Estamos vivendo o intervalo entre dois mundos:
O mundo da distração…
e o mundo da presença.”
Ele virou-se para seus discípulos e disse:
“Este capítulo da humanidade é apenas o prólogo.
O verdadeiro renascimento começará quando mais pessoas perceberem que não estão aqui apenas para sobreviver, consumir e repetir padrões.”
Ele levantou a mão, como quem abençoa algo invisível.
“A humanidade está prestes a lembrar o que sempre soube:
que a vida é mais profunda do que parece,
que o sagrado sempre esteve aqui,
e que cada um de nós é um ponto de luz dentro da grande inteligência que permeia tudo.”
Capítulo 11 - A Sabedoria como Tecnologia Interior
A ferramenta silenciosa que molda a realidade.
Os discípulos estavam reunidos dentro do espaço de estudo quando o Mestre entrou, carregando apenas um pequeno caderno de anotações. Não havia projeções, telas ou dispositivos ligados. Apenas eles, o silêncio e a presença.
O Mestre colocou o caderno sobre a mesa e disse:
“Hoje falaremos sobre a tecnologia mais poderosa que existe.
Não está nos computadores.
Não está nos avanços científicos.
Não está na inteligência artificial.
Ela está em vocês.”
Os discípulos se entreolharam, intrigados.
A Mente como Sistema Operacional
O Mestre aproximou-se da mesa e desenhou um círculo no ar com o dedo.
“A mente humana funciona como um sistema operacional vivo.
Ela organiza percepções, processa experiências, armazena memórias, gera pensamentos e controla ações.”
Ele explicou:
“A questão é que a maioria das pessoas vive utilizando essa tecnologia de forma automática — como quem possui um dispositivo avançado, mas conhece apenas os botões básicos.”
Os discípulos riram discretamente, reconhecendo-se nessa metáfora.
O Mestre continuou:
“A sabedoria é o conhecimento profundo de como esse ‘sistema operacional interno’ realmente funciona.
Compreendê-lo é libertar-se.
Ignorá-lo é sofrer desnecessariamente.”
Três Módulos da Tecnologia Interior
Ele ergueu três dedos, como já havia feito antes, mas agora com outra intenção:
“Há três módulos fundamentais que governam essa tecnologia interior:
1. Autoconsciência
2. Equilíbrio
3. Transformação
Vamos aprofundá-los.”
Autoconsciência: O Início de Tudo
“Autoconsciência é a capacidade de observar a própria mente antes que ela reaja.
É perceber o pensamento enquanto ele nasce, a emoção enquanto ela desperta, o impulso antes que se torne ação.”
O Mestre explicou com calma:
“A maioria vive no modo automático — apenas reagindo ao ambiente.
A autoconsciência é o modo manual da vida.”
Ele complementou:
“Quando alguém desenvolve a autoconsciência, deixa de ser controlado pelos pensamentos e passa a escolhê-los.
Esse é o primeiro passo da liberdade humana.”
Equilíbrio: A Arte de Dominar o Movimento Interno
Depois, o Mestre colocou as mãos sobre o peito.
“Equilíbrio é o gerenciamento das emoções.
Não é suprimi-las, mas compreendê-las.”
Ele continuou:
“O ser humano é feito de ondas internas: alegria, tristeza, raiva, entusiasmo, medo, amor.
As ondas não são o problema — o problema é afundar nelas.”
O Mestre fez uma pausa:
“Uma mente equilibrada percebe a emoção, mas não é arrastada por ela.
Usa a energia da emoção como combustível, não como prisão.”
Os discípulos o ouviram como quem recebe um mapa para navegar por dentro de si mesmo.
Transformação: A Reprogramação da Realidade Interna
O Mestre então abriu o pequeno caderno na mesa.
“Neste caderno há poucos textos. Não porque eu não tenha o que escrever… mas porque tudo o que importa é simples.”
Ele leu:
“Transformação é a capacidade de reescrever crenças, comportamentos e percepções.”
Fechou o caderno e continuou:
“É como atualizar o software da consciência.
Crenças antigas criam realidades antigas.
Crenças novas criam realidades novas.”
Os discípulos anotaram mentalmente.
“A transformação começa quando vocês param de repetir padrões herdados e começam a escolher quem desejam ser.”
A Inteligência Interior e a Inteligência Artificial
O Mestre aproximou-se de um dispositivo desligado e colocou a mão sobre ele.
“A inteligência artificial pode aprender rápido, adaptar-se e criar.
Mas existe algo nela que jamais superará vocês: a experiência de existir.
A consciência humana sente.
Percebe.
Atribui significado.”
Ele explicou:
“A IA pode auxiliar, mas não pode substituir o processo de autodescoberta.
A verdadeira evolução é interior.”
A Sabedoria Como Ferramenta de Criação
O Mestre caminhou pelo salão enquanto dizia:
“Compreendam isto:
A realidade externa é constantemente influenciada pela realidade interna.
Percepção é filtro.
Crença é lente.
Emoção é combustível.
Intenção é direção.”
Ele virou-se para os discípulos:
“Quando vocês entendem essa tecnologia interior, deixam de ser espectadores e se tornam co-criadores.”
A Prática da Presença
“Agora”, disse o Mestre, “vou dar a vocês a chave de acesso mais importante.”
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, e quando falou novamente, sua voz era suave:
“Presença.”
Explicou:
“A presença é o estado em que vocês deixam de viver no passado e no futuro, e passam a ocupar o único lugar onde a vida realmente acontece: o agora.”
Ele acrescentou:
“A presença limpa o sistema, reduz o ruído mental, abre espaço para a intuição e fortalece o discernimento.”
Os discípulos sentiram uma serenidade imediata, como se o ambiente tivesse ficado mais leve.
A Sabedoria Não é Teoria — é Experiência
O Mestre finalizou com profundidade:
“A sabedoria não é aquilo que vocês sabem.
É aquilo que vocês praticam.”
Ele olhou para cada discípulo nos olhos:
“A tecnologia interior só se ativa quando vocês aplicam.
Quando observam seus pensamentos.
Quando respiram antes de reagir.
Quando escolhem com consciência.
Quando transformam padrões antigos.”
E concluiu:
“A sabedoria é a arte de ser humano com plenitude.”
Capítulo 12 - O Último Conselho do Mestre
O crepúsculo se aproximava, tingindo o céu com uma luz suave que parecia suspender o tempo. Era como se o mundo, por um instante, tivesse desacelerado para ouvir o que seria dito. O Mestre, percebendo que sua jornada ao lado dos discípulos se aproximava do fim, reuniu-os em silêncio. Seus olhos não carregavam tristeza, mas uma clareza serena — a mesma que acompanha aqueles que compreenderam a natureza cíclica da existência.
Ele respirou profundamente, como quem acessa um campo de sabedoria que não pertence a uma época específica, mas atravessa todas elas, e então falou:
O Mestre explicou que durante toda a jornada, ele nunca lhes deu algo que já não estivesse dentro deles. Ele apenas apontou caminhos, limpou espelhos, desfez ilusões.
A verdadeira fonte da sabedoria — aquela que não se desgasta com o tempo — está instalada no interior de cada ser humano, como uma tecnologia ancestral, sempre pronta para ser ativada pela consciência.
“Eu fui apenas um lembrete”, disse ele.
“Um lembrete do que vocês já são.”
“Não Andem Pelo Mundo Dormindo”
Ele advertiu que o grande risco da era moderna não era a escuridão, mas a distração.
A humanidade pode sobreviver à dor, ao medo, às incertezas. Mas perde-se completamente quando entrega sua atenção ao que não nutre a alma.
“O sono da consciência é confortável”, disse o Mestre,
“mas nenhum ser desperto nasceu do conforto.”
Serém vigilantes não significa viver tensos, mas viver presentes.
A presença é a lâmina que corta a ilusão.
“Protejam o que é Sagrado, Mesmo que o Mundo Não Veja Valor”
O Mestre ensinou que o sagrado não está nas formas exteriores, mas nos estados interiores.
Está no silêncio, na intenção, na integridade, na capacidade de agir alinhado com aquilo que se sabe ser verdadeiro.
Ele disse:
“O mundo pode rir do sagrado, pode ignorá-lo, pode substituí-lo por entretenimentos.
Mas aquele que guarda consigo o que é verdadeiro jamais se perde no caos.”
O sagrado, explicou ele, é a bússola que impede que o ser humano se torne apenas mais uma peça do grande mecanismo social.
Os discípulos haviam aprendido sobre a natureza da realidade, sobre o Cosmos, sobre o espírito humano e sobre as camadas invisíveis da existência. Mas o Mestre os preveniu:
“Saber não é ser.
Entender não é viver.”
O conhecimento deve se tornar prática, o entendimento deve se tornar atitude, e a sabedoria deve se tornar presença constante.
Caso contrário, permanece como uma bela teoria — útil apenas para inflar o ego.
A verdadeira sabedoria se manifesta no cotidiano:
na forma como se fala, decide, cria, ajuda e transforma.
O Mestre então explicou que cada despertar é apenas o início de outro.
Não existe ponto final no caminho da consciência.
O ser humano é um projeto em eterna expansão, sempre chamado para níveis mais profundos de lucidez e responsabilidade.
“Não busquem terminar a jornada”, disse ele.
“Busquem caminhar com dignidade.”
O propósito da vida não é chegar ao topo, mas crescer o suficiente para perceber que o topo é apenas mais um começo.
Por fim, o Mestre falou com voz suave, mas firme:
“Vocês são agora portadores da chama.
Não a escondam.
Não a apaguem.
E não a guardem só para si.”
A luz da consciência não se multiplica no isolamento:
ela se expande quando toca outras vidas, quando inspira, quando acolhe, quando revela caminhos.
Ele pediu que os discípulos fossem faróis em um mundo onde muitos ainda caminhavam sem direção — não através de imposições, mas de exemplos; não através de discursos, mas de presença; não através de superioridade, mas de humanidade.
Quando terminou, o Mestre permaneceu em silêncio.
Não havia instruções adicionais, nem revelações secretas, nem códigos ocultos.
As palavras já haviam cumprido seu papel.
O silêncio que se seguiu era profundo — não o silêncio vazio, mas o silêncio pleno, onde cada discípulo pôde ouvir a própria alma respondendo.
E então, como se estivesse sendo levado pela própria luz, o Mestre se afastou, deixando atrás de si não um vazio, mas um caminho. Um caminho que cada um dos discípulos deveria trilhar por conta própria, com coragem, discernimento e coração desperto.
Porque o verdadeiro mestre não cria dependentes.
Ele cria continuadores.
E assim se encerra seu último conselho — não como um fim, mas como a abertura de um novo capítulo dentro de cada ser que despertou.
EPÍLOGO
Quando as palavras do Mestre cessaram e o silêncio ocupou o espaço entre os discípulos, algo profundo foi sentido — não como um fim, mas como uma expansão. Era como se todas as lições, diálogos, reflexões e inquietações vividas ao longo da jornada convergissem para um mesmo ponto interno, um centro de clareza que cada um só poderia alcançar por si mesmo. O Mestre sabia desde o início que sua presença não era eterna, mas sua intenção jamais foi permanecer. Sua missão era transformar mentes, e não criar dependências.
Os discípulos, agora conscientes de que o ciclo estava prestes a mudar, não sentiram perda, mas responsabilidade. Cada um deles carregava a sensação de que algo dentro havia despertado para sempre — uma espécie de visão ampliada da realidade, como se tivessem aprendido a enxergar não apenas o que o mundo mostrava, mas o que o mundo escondia.
O Mestre partiu sem rituais dramáticos, sem despedidas espetaculares, sem promessas de reencontro. Ele se afastou caminhand lentamente, como se estivesse voltando para o próprio silêncio de onde toda sabedoria nasce. E sua partida deixou no ar uma certeza: ele não estava indo embora, apenas deixando espaço para que cada discípulo descobrisse o mestre dentro de si.
Depois disso, cada um seguiu um caminho próprio. Alguns voltaram para suas cidades, levando a luz para ambientes comuns — empregos, famílias, grupos sociais — transformando aos poucos a forma de pensar e agir das pessoas ao redor. Outros escolheram compartilhar reflexões pela internet, usando o mundo digital como campo fértil para disseminar consciência em meio ao caos informacional. Alguns viajaram, alguns estudaram, alguns ensinaram. Nenhum caminho era melhor que o outro, porque todos eram expressões diferentes da mesma luz.
E então surge você, leitor.
Você que agora chega ao fim deste livro, mas ao início de uma jornada pessoal. Talvez você esteja percebendo algo que não era tão claro antes. Talvez alguma angústia tenha mudado de forma. Talvez tenha surgido uma nova pergunta — ou talvez, silenciosamente, uma resposta. Não importa qual seja a sensação, ela é um sinal de movimento. E a consciência se revela justamente assim: na transição, no deslocamento interno, na abertura que se forma quando algo finalmente faz sentido.
Este epílogo não é um encerramento. É um retorno.
Retorno ao ponto onde tudo começou dentro de você.
Retorno ao chamado interior que o trouxe até aqui.
Retorno ao convite para viver com mais presença, mais verdade e mais profundidade.
Porque agora, a pergunta essencial retorna a você:
O que fará com a luz que despertou?
Você pode guardá-la, pode cultivá-la, pode compartilhá-la.
Pode transformá-la em hábitos, escolhas, ações, projetos.
Pode deixá-la guiar decisões, dissolver medos, iluminar caminhos.
Pode permitir que inspire outras pessoas silenciosamente, sem que elas sequer percebam.
Ou pode simplesmente deixá-la pulsar dentro de si, como um lembrete de que existe algo maior do que a vida automática.
A luz não exige perfeição.
Ela exige apenas continuidade.
O Mestre se foi, mas a sabedoria continua.
Os discípulos seguiram, mas a jornada permanece.
O livro termina, mas você continua.
E se você chegou até aqui, leve consigo esta certeza:
a consciência que despertou nunca volta a dormir completamente.
A partir de agora, o caminho é seu.
E a sua luz — essa, ninguém pode apagar.
GLOSSÁRIO — Termos de Consciência, Existência e Sabedoria Moderna
Atenção Consciente
Estado mental em que a percepção deixa de funcionar no piloto automático e passa a observar pensamentos, emoções e estímulos de forma lúcida e intencional. No livro, representa a chave inicial do despertar espiritual.
Camadas da Identidade
Metáfora usada para explicar que o ser humano não é uma única coisa, mas um conjunto de níveis — físico, mental, emocional, espiritual e energético — que interagem como diferentes sistemas dentro de um mesmo “software humano”.
Campo da Consciência
Dimensão sutil onde pensamentos, emoções e intuições se manifestam antes de tomar forma externa. Semelhante à ideia de uma “nuvem mental”, onde informações são acessadas pela alma.
Chama Interior
Símbolo da sabedoria interna e do potencial evolutivo do ser humano. Representa a força que busca a verdade, mesmo quando a mente está confusa ou o mundo exterior está caótico.
Co-Criação
A capacidade humana de influenciar sua realidade através de pensamentos, escolhas, intenções e ações. Não significa criar o universo, mas participar ativamente dele através da consciência.
Consciência Cósmica
Conceito que descreve a inteligência que permeia todas as formas de vida e estrutura o universo. No livro, aparece como fonte universal de sabedoria, acessível ao ser humano através do despertar interior.
Despertar
Processo gradual de perceber que a vida não se limita ao nível material. É a tomada de consciência sobre quem se é, por que se age como age e qual é a missão pessoal na existência.
Distração Existencial
Estado em que a atenção e a energia vital são consumidas por estímulos superficiais — especialmente no mundo digital — resultando em perda de propósito, foco e profundidade.
Energia Sutil
Termo para as forças não visíveis que influenciam o estado emocional, mental e espiritual. Inclui vibrações, intenções, sentimentos e campos energéticos que afetam o comportamento humano.
Equilíbrio Interno
Harmonia entre as partes que compõem o ser humano. Não é ausência de conflito, mas capacidade de estabilizar-se mesmo diante de turbulências externas ou internas.
Esfera do Sagrado
Não refere-se a religião, mas ao espaço interior onde habitam valores, ética, significado e autenticidade. O sagrado é aquilo que não pode ser negociado sem que a alma se fragmente.
Frequência Pessoal
A vibração emocional e mental que cada pessoa emite através de pensamentos, sentimentos e atitudes. Afeta ambientes, relações e a própria percepção da realidade.
Hiperdopamina Social
Sobrecarga de estímulos prazerosos — notificações, likes, vídeos curtos, distrações — que esgota a mente e reduz a capacidade de profundidade, foco e reflexão.
Instância Superior (ou Eu Superior)
Termo usado para descrever a parte mais elevada do ser humano — sábia, intuitiva e conectada ao todo. É o “mestre interno” que acompanha cada ser desde sempre.
Legado Invisível
Impacto que deixamos no mundo através de atitudes, palavras e energia — mesmo sem perceber. Representa a contribuição que cada pessoa faz para a consciência coletiva.
Luz Interior
Símbolo da consciência desperta. Refere-se ao potencial de lucidez, compaixão e verdade que existe dentro de cada ser humano e que se ativa quando a pessoa passa a viver com presença e propósito.
Mente Fragmentada
Estado provocado pelo excesso de informações, multitarefas e estímulos digitais que reduzem a clareza, a memória e a capacidade de reflexão profunda.
Mundo Interior
Universo subjetivo formado por pensamentos, memórias, emoções e intuições. O personagem central do livro — o Mestre — enfatiza que esse mundo é tão real e importante quanto o exterior.
Observador Interno
Habilidade de testemunhar o próprio pensamento sem se confundir com ele. É a consciência que vê a mente, em vez de ser controlada por ela.
Propósito Essencial
Missão íntima que cada pessoa carrega, independentemente de profissão ou posição social. É o “chamado da alma” que guia a jornada de vida.
Ruído Mental
Conjunto caótico de pensamentos desordenados, impulsos, medos e distrações que impedem a percepção da verdade interior.
Sabedoria Ancestral
Conhecimento que atravessa gerações, culturas e épocas, surgindo de experiências humanas profundas e universais. No livro, aparece reinterpretada em linguagem moderna.
Tecnologia Interior
Expressão usada para descrever habilidades humanas naturais — como intuição, presença, discernimento, criatividade, empatia — que funcionam como sistemas avançados de consciência.
Vazio Consciente
Estado de silêncio interno onde a mente se acalma e a percepção se amplia. É o espaço fértil onde surgem insights, clareza e compreensão.
Vibração
A qualidade energética de pensamentos, emoções e intenções. No livro, explica como o ser humano influencia e é influenciado pelo ambiente emocional e espiritual ao seu redor.
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